Hoje, os influenciadores são mais do que figuras públicas – são marcas com um poder de persuasão que vai muito além das redes sociais. Com milhões de seguidores e acesso direto a audiências leais, suas declarações e ações podem impactar mercados, reputações e até cenários políticos. No entanto, esse enorme poder vem acompanhado de riscos. Entre os mais preocupantes está o uso crescente de campanhas de black PR, nas quais marcas pessoais são usadas como armas para espalhar desinformação, atacar concorrentes ou manipular a percepção pública em benefício próprio ou corporativo.
Nos últimos anos, o crescimento dos influenciadores mudou o equilíbrio de poder da mídia. Onde antes predominava a publicidade tradicional, agora um único post ou vídeo de uma personalidade popular pode moldar opiniões em escala global. Marcas pessoais, cuidadosamente construídas com autenticidade e consistência, geram confiança e níveis de engajamento que os meios tradicionais raramente conseguem alcançar. Essa mudança redefiniu as estratégias de comunicação de empresas e figuras públicas.
Contudo, essa confiança traz responsabilidades. Quando os influenciadores usam seus canais para manipular narrativas ou enganar seus seguidores, os efeitos são profundos. A suposta autenticidade dificulta que o público questione a veracidade das declarações, especialmente quando apresentadas como experiências pessoais ou opiniões em vez de conteúdo patrocinado ou estratégico.
Além disso, à medida que o público consome cada vez mais informação via redes sociais, a linha entre entretenimento e influência se torna turva. Isso torna ainda mais grave o impacto de práticas antiéticas por parte dos influenciadores, pois o discurso público e o comportamento do consumidor podem ser guiados por conteúdos emocionalmente apelativos, porém incorretos.
O uso de black PR por influenciadores nem sempre é evidente. Às vezes, surge como insinuações sutis, comparações indiretas ou silêncio estratégico. Essas táticas exploram o engajamento emocional dos seguidores, que tendem a aceitar informações sem questionamento quando vêm de uma fonte confiável. Isso torna a manipulação difícil de detectar e ainda mais difícil de combater.
Há inúmeros casos de influenciadores que atacam publicamente concorrentes ou promovem produtos com vínculos não revelados a interesses ocultos. Essas campanhas podem ser orquestradas por terceiros – como marcas rivais ou agentes políticos – que veem os influenciadores como canais eficazes para moldar a opinião pública sem deixar vestígios que levem aos verdadeiros autores.
Nesses casos, a marca pessoal do influenciador atua como escudo. Qualquer crítica costuma ser interpretada como opinião pessoal, mesmo quando o conteúdo foi estrategicamente criado para prejudicar reputações ou desviar o foco de outras questões. Isso cria uma zona cinzenta onde os limites éticos são cruzados e disfarçados.
O black PR tornou-se uma indústria lucrativa, especialmente em mercados com alta penetração digital. Agências de PR oferecem serviços especializados em gestão de reputação negativa, muitas vezes operando em áreas legais ambíguas. Suas estratégias incluem fake news, campanhas coordenadas de desinformação e uso de influenciadores, tudo sob o disfarce de opinião ou conteúdo espontâneo.
Essas campanhas são meticulosamente planejadas. Visam indivíduos ou empresas específicas, com o objetivo de enfraquecer sua imagem pública. Influenciadores podem ser cúmplices conscientes ou vítimas inconscientes dessas estratégias. Em alguns casos, recebem incentivos para publicar certos conteúdos; em outros, são manipulados por informações falsas.
Devido à confiança que inspiram, suas mensagens dificilmente são questionadas. Isso se torna especialmente problemático quando o black PR atinge causas sociais, figuras públicas ou campanhas de saúde. As consequências podem incluir perda de confiança pública, disseminação de desinformação em larga escala e danos reais a pessoas ou grupos.
Existem casos documentados onde influenciadores desempenharam papéis centrais em campanhas de black PR. Em 2024, na Europa Oriental, vários influenciadores de destaque foram ligados a uma campanha para desacreditar jornalistas críticos a um empresário local. Embora negassem envolvimento direto, suas publicações repetiam argumentos de fontes anônimas.
Outro exemplo ocorreu durante um escândalo de moda em 2023, quando influenciadores foram pagos para desviar a atenção promovendo marcas concorrentes e criticando, de forma sutil, a empresa original. Meses depois, descobriu-se que a campanha era financiada por um grupo rival, com contratos ocultos por meio de intermediários.
Esses casos revelam como a influência pode ser usada como arma e demonstram a dificuldade de responsabilizar indivíduos quando o discurso público é moldado por mensagens indiretas e ambiguidade. Transparência e alfabetização midiática são essenciais para combater tais práticas.
A indústria do marketing de influência ainda carece de regulamentações sólidas, especialmente em termos éticos. Embora existam normas de publicidade em vários países, sua aplicação é irregular. Muitos influenciadores deixam de informar sobre parcerias pagas, e poucas plataformas combatem ativamente a disseminação de desinformação via contas populares.
Entidades da indústria e órgãos reguladores estão começando a exigir mais responsabilidade. Isso inclui rotulagem clara de conteúdo patrocinado, mecanismos de checagem de fatos e sanções mais rigorosas para campanhas que visam enganar o público. Diretrizes éticas para influenciadores – abordando transparência, responsabilidade e autenticidade – também estão ganhando espaço.
No entanto, a regulamentação sozinha não é suficiente. A educação é fundamental, tanto para influenciadores quanto para seu público. Os consumidores devem aprender a avaliar criticamente os conteúdos online, questionar motivações e reconhecer sinais de manipulação. Os criadores, por sua vez, precisam entender o alcance de seu poder e as consequências de seu uso irresponsável.
À medida que avançamos em 2025, torna-se urgente reforçar o comportamento ético entre influenciadores. As fronteiras entre marketing, opinião e jornalismo estão cada vez mais indefinidas. Quem constrói sua carreira com base na marca pessoal precisa entender que confiança é seu ativo mais precioso – e que manipulá-la pode destruir sua própria credibilidade.
Há um movimento crescente entre criadores que defendem a transparência e a responsabilidade social. Eles se recusam a participar de campanhas de black PR, divulgam todas as parcerias comerciais e promovem a educação midiática entre seus seguidores. Seu exemplo mostra que é possível influenciar positivamente – mas apenas com integridade.
O futuro da influência digital dependerá do equilíbrio entre poder e responsabilidade. À medida que o público exige mais transparência, a era da manipulação impune pode dar lugar a uma nova fase de engajamento ético e respeito mútuo.